Quando o Manual de tapeçaria se exibiu, unânime, primeiro lugar, os jurados só buscavam uma coisa, saber quem se escondia por trás do pseudônimo – da silva. E se viu que era um nome que nada lhes dizia: um nome de uma anônima: noutros termos, o concurso se abria para uma revelação.
Raramente, em nossa vida, tudo deu certo: é que este romance – com Jomar e Jomares e Jomares e Jomares – pulsa com o que há de mais abjeto em nossa condição humano-brasílica, a banda podre de nossa vida coletiva: a criança e a professorinha e o ensino que foi dito primário e nada será nas décadas por vir, enquanto não tomarmos, os adultos, vergonha da impudicícia com que dilapidamos os frutos dos nossos desesperados amores.
Mas este romance é mais do que uma denúncia social, pois é um ato de amor e muito mais que isso, pois sendo tudo aquilo é, ademais, uma grande obra de arte – a mais bela das artes, a que tem as duas águas, a água da fonte da vida e a água da fonte da beleza, que neste caso é o espantoso domínio de um língua para exprimir o inefável: de como, acima e à volta e em torno e abaixo e com e sem as regrinhas gramaticalíssimas e estilisticíssimas, se faz de uma língua convencional a língua necessária para portar o humano nas duas vertentes.
Esse milagre, no Manual de tapeçaria, é obra de alguém que não conheço mas sabia – há muitos anos – que iria aparecer – e aqui está!
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