Aquele calígrafo das Arábias achou de dar umas voltas pelo mundo. Acionou o tapete mágico, veio parar no Brasil do século XVIII, que país diferente e tão igual às Arábias lá dele - considerou. Daí, marcou um voo para o século XXI, mesma coisa: espanto sem diferença. Sonho, violência, luta, gente que resiste, jovem que escreve o amanhã. Como se gabava da extrema facilidade para a caligrafia capaz de transformar – com um toque de pena ou pincel – qualquer sinal em um outro, o tal calígrafo foi pegando umas histórias que encontrou, escrevendo de outra forma, fazendo pingo virar letra. Confira se você é um bom leitor. Nestes tempos em que leitura, escrita e guerra estão na moda, encontre a letra dentro do pingo nestas histórias doidas que o calígrafo deixou por aqui.
Neste livro, você vai encontrar três histórias doidas. Três histórias que vão balançar seus alicerces. Três vidas – Letícia, Marquinhos e Johnyston – que representam a doida realidade de uma nação. Passado e presente de uma nação. Aqui, no entanto, eles insistem em recusar o mesmo futuro de sempre.
Você vai ouvir vozes e ruídos através de uma parede. As paredes têm ouvidos, e Letícia sabe muito bem disso. É preciso ter ouvido fino para extrair das palavras a liberdade, o poder, a sabedoria. Mas também é preciso ter cuidado. Palavra pode ser coisa do diabo, pode levar você para outros lugares, outras histórias. E você pode acabar sob o fogo cruzado da sorte tirada nas cartas: o Enforcado aparece na casa de uma cigana e muda mais uma vez o destino de Marquinhos.
E depois dessa doideira toda de futuro nas cartas, o circo pegando fogo, gente mandando no caminho da vida, eis que surge na sua frente uma estrela-de-rabo. E este cometa ilumina uma vida feita de azedume, restos, sobras, dejetos, mas de coisas boas também: livros na estante, bandeira, caixinha de música, Bíblia.
Aqui você também vai encontrar histórias de hoje e de ontem, vidas distantes e próximas, realidades diferentes, vozes em vários tons. E vai perceber que tudo está assentado numa construção muito bem feita: união de argamassa, tijolo e saibro. As paredes, o arcabouço dessas histórias doidas, são narrativas iluminadas por uma estrela-de-rabo que teima em mudar o detino, cisma em transformar tudo, inclusive você.
Nilma Lacerda, com sua sensibilidade e percepção do mundo, colhe episódios do dia a dia e faz germinar esperança, felicidade e futuros – sempre melhores. Seu texto encantador é elaborado no cuidado consciente de cada detalhe e no extravasamento de sua paixão pela vida e pelas palavras. Como editoras e admiradoras de Nilma, temos o privilégio de ser encantadas e transformadas por suas histórias quase que em primeira mão.
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